segunda-feira, 29 de novembro de 2010

''Um outro dia, embaixo da chuva, esperamos um barco à beira de um lago; a mesma lufada de aniquilamento me atinge,desta vez por felicidade. Assim, às vezes, a infelicidade ou a alegria desabam sobre mim, sem nenhum tumulto posterior, nenhum outro sentimento: estou dissolvido, e não em pedaços: caio, escorro, derreto. Este pensamento levemente tocado, experimentado, tateado como se tateia a água com pé pode voltar. Ele nada tem de solene. É exatamente a doçura.''
( Roland Barthes )

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Fragmentada


Fui sabendo de mim
Por tudo aquilo que perdia.
Perdi a memória das faces, jeitos, nomes,
cheiros, formas...
Restou-me apenas emoções confusas e palavras.
A linguagem então passou a ser minha pele
E mesmo nas noites mais frias aprendi
a sobreviver ficando só na sua companhia.
É por meio da linguagem acaricio, toco e esgoto-me
Minha linguagem treme de desejo
Uma emoção que alimenta, explode, envolve.
Fui sabendo de mim.
Nas palavras mal tecidas.
Na subjetividade
Algo que ao mesmo tempo transforma, acresce,
 Aperfeiçoa, interrompe e reduz.
Um texto vivo
Perdido nos contonos de um círculo
E que se espalha
Um texo sem linearidade?

Um  f r a g m e n t o  humano.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Á uma vida.

Desfolhei a chuva.
Enterrei todos os meus ventos.
Corri para além dos passos
que nunca ousei.

Para ti criei o perfurme dos versos,
toquei no nada
e para ti foi tudo.

Para ti criei todas as palavras
Todas me faltaram,
e neste instante provei
o sabor do sempre.

Para ti dei voz
às minhas mãos
e vida aos movimentos
do meu corpo.

Abri os gomos do tempo
assaltei, fugi
forgei o mundo.

Para ti eu existo
até mesmo quando me desconheço.



Dedicado ao Teatro.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Dissolvendo.

Deixando de lado um livro que leria, e que foi deixado para depois.
Foi ao encontro de versos como uma conversa que esquenta
até a alma sem dizer precisamente nada.
Como nada no olho ou no gesto dela revelasse que estava à
procura de alguém para dividir a cama nas próximas horas de uma noite fria.
As próximas horas de uma vida inteira.
Um diálogo mudo, com palavras engarrafadas no peito.
Havia um nó.
Dissolvendo a tinta das letras, compôs palavras que se apagam aos poucos,
mas que permanecem fixas na memória.
Dissolvendo a própria alma em lágrimas que se materializam
em versos que as gotas salgadas se encarregam de apagar.
Dissolvendo os sonhos.
Podendo mentir e dissimular,
já que a realidade se quebraria a qualquer momento.
Não havia mais nada, além dos espaços em branco
deixados com marcas de passos do que já se foi.
Deveria seguir aqueles passos?
Sim vá! Ou melhor, não, volta!
Quer dizer, fique parada.
Parada?
Não, siga aquele ponto seco.
Aquele fosco?
Sim, aquele que está se d
                                      i
                             S
                         S                         no espaço em branco.
                                      o
               
                                      L                                                                
                                                      v                                
                                          e
 
                                        n
                                                  d
                                                                                                                                                         

                            o

                                                         
                                                                                                       

                                                 o                                                                                                 

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Literatura Africana

" A realidade é dolorosa e imperfeita'' dizia-me, ''é essa a sua natureza e por isso a distinguimos dos sonhos. Quando algo nos parece muito belo pensamos que só pode ser um sonho e então beliscamo-nos para termos a certeza de que não estamos a sonhar...
A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho (...)''

Trecho do meu livro favorito ''O vendedor de passados'' José Eduardo Agualusa.
A Literatura Africana me facina por ser uma leitura substancial e que nos enchem de alma.